
Em audiência pública realizada na última sexta-feira (17/10), na sede do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Instituto de Pesquisa da Sociedade e Consumo (IPSConsumo) defendeu a reprovação da fusão entre as redes de varejo pet Petz e Cobasi. A entidade alertou que a operação pode criar um monopólio no setor, com aumento de preços, redução da concorrência e efeitos sociais negativos, especialmente para famílias de baixa renda e para o bem-estar animal.
A manifestação foi apresentada pelo advogado Vitor Morais de Andrade, representante do IPSConsumo. Em sua exposição, ele destacou que a união das duas maiores redes do mercado pet brasileiro “elimina a principal rivalidade existente”, concentrando mais de 50% do mercado especializado. Segundo Morais, estudos econômicos mostram que a fusão cria poder de mercado suficiente para elevar preços em até 5% sem perda relevante de clientes, o que configura redução efetiva da pressão competitiva, pois elimina a principal rivalidade existente no setor, criando uma empresa com poder para ditar preços, controlar fornecedores e reduzir drasticamente a diversidade de produtos e serviços disponíveis aos consumidores.
O representante do instituto também mencionou o alerta do Movimento Caramelo, ONG de proteção animal, que prevê uma possível “onda de abandono sem precedentes”, caso a fusão seja aprovada sem restrições. “Em termos práticos, o consumidor não terá alternativas próximas, e o tutor de baixa renda poderá deixar de comprar ração ou medicamentos essenciais para seu animal”, afirmou Vitor Morais de Andrade. “Quando os preços de rações e medicamentos sobem, o primeiro impacto é no bolso do tutor. E o último elo dessa cadeia é o próprio animal, que acaba sendo abandonado”, concluiu.
Durante a audiência, o IPSConsumo reforçou que a operação entre Petz e Cobasi não encontra concorrentes equivalentes. Pequenos petshops e agrolojas não têm escala ou estrutura logística para competir, e o varejo alimentar tradicional atua em faixas de produtos populares. Já os marketplaces digitais, como Amazon e Mercado Livre, não possuem presença física e, portanto, não exercem pressão competitiva relevante.
Segundo dados apresentados pelo advogado, o setor pet movimenta mais de R$ 60 bilhões anuais e reúne atualmente cerca de 30 milhões de animais em situação de abandono no Brasil. “Uma fusão dessa magnitude não é apenas um tema econômico — é uma questão social e de bem-estar animal”, destacou o representante do IPSConsumo.
O Instituto defende que o Cade deve reprovar a fusão ou impor remédios concorrenciais rigorosos, capazes de preservar a livre concorrência e evitar prejuízos aos consumidores e ao mercado. “Uma decisão dessa magnitude não é apenas econômica, é também social. Preservar a concorrência é proteger o consumidor e, neste caso, também os animais”, concluiu Morais.
A audiência integra a fase de instrução do processo que analisa a operação Petz–Cobasi, avaliada em mais de R$ 5 bilhões. O Cade ainda não definiu a data para a decisão final.
O IPSConsumo tem atuado ativamente no Cade em processos que possam prejudicar o cidadão. O instituto entrou como terceiro interessado no processo que analisa o codeshare entre Gol e Azul, que resultou em menos concorrência para o passageiro.
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